Arquivo para agosto, 2009

“Você me ligou naquela tarde vazia e me valeu o dia…”

Lembrando a música do Ira!, numa tarde vazia, meu telefone toca.

Vi um número desconhecido, DDD de outra cidade. Atendi. Do outro lado da linha, um grande amigo – meu calouro na faculdade. Ele entrou um semestre depois de mim e, num piscar de olhos, ficamos muito próximos. Com certeza, o curso foi mais interessante e divertido por causa dele. Boas lembranças me vieram à cabeça na hora. Como era bom ouvir novamente sua voz.

Não nos falávamos há um bom tempo. Acho que desde a formatura dele. Tivemos uma ou outra conversa espóradica por msn, mas sempre muito breve. Ele me contou que estava terminando o mestrado e defenderia a tese em breve. E que havia dedicado a mim, como uma homenagem, uma forma de me agradecer. “Como assim?”, pensei.

Foi então que ele me explicou:

” ‘Menina’, quando entrei na faculdade, quase ninguém me levava a sério. Até meus pais duvidavam um pouco da minha vocação. Você foi a primeira pessoa que acreditou em mim. E foi quando eu mais precisava, porque, de tanto ouvir que eu não era capaz, comecei a achar que eu não tinha potencial. Você não só me incentivou, como despertou em mim a vontade de me superar. De crescer. De lutar.

Lembro como se fosse hoje. Você percebeu algumas dificuldades que eu tinha e, ao invés de apontá-las, me criticar ou julgar, você me ajudou. Gastava horas me explicando algumas matérias. E meus textos, lembra? Eu tinha bloqueio para escrever, não conseguia expor minhas ideias. Mas você me fez acreditar e treinar. Eu sei que dei trabalho. Eu era displicente e ainda reclamava quando você cobrava empenho. Mas você não desistiu. O resultado? Eu, além de conseguir me formar, hoje estou terminando meu mestrado.

E sempre penso em você.

Então, dedico a você esta minha conquista. Como forma de te agradecer. De te mostrar o quanto você foi e é importante na minha vida. Faz parte da minha história.”

Minha passagem já está comprada. Irei assistir à defesa da tese dele. Não resisti ao convite. E faço questão de estar presente num momento tão importante para alguém que é querido e especial pra mim.

Sim, esta ligação me valeu o dia. Na hora, fiquei emocionada. Nós dois ficamos. E conversamos por horas… Ele ainda não sabe como as palavras dele me tocaram e o bem que ele me fez. Porque isso… ah, eu vou dizer pessoalmente!


Travessia

Estava cheia. Abarrotada. Caixas. Quinquilharias. Coisas velhas. Lembranças.

Era hora de fazer uma faxina. Livrar-se de velhos hábitos. Doar roupas, sapatos e utensílios que já não eram mais usados. Jogar fora traumas, medos, insegurança. Libertar-se do passado que a aprisionava.

Abrir as janelas. Deixar o sol entrar. Permitir que novos ares invadissem sua mente.

Agora sim. Estava mais leve.

Podia pensar com clareza, organizar as ideias. O fardo de guardar tanta informação, mágoa ou rancor desaparecera.

Abriu-se espaço para novas emoções… e suas lembranças mais preciosas estariam sempre com ela, aonde quer que fosse…

travessia

 

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

Fernando Pessoa


Eu sempre quis… você!

– Sabia que eu ainda não esqueci aquele dia? Eu me abri pra você, me expus e você me diz que tinha namorado. Já faz muito tempo, eu sei, mas me lembro como se fosse hoje…

– Eu também. Penso naquele dia até hoje, em como teria sido…

– Pensa? Pensa nada! Foi você quem não quis ficar comigo.

– Eu não podia. Estava namorando, não seria legal.

– Mas, quando voltei de viagem, você não saía da minha cabeça. Precisava te ver, tentar. Terminei o namoro e fui aí te procurar.

– Você veio? Quando?

– Acho que uma semana depois, mais ou menos. Te liguei várias vezes. Você não atendeu, nem retornou.

– Não sabia disso. Sim, eu te evitei por um tempo. Estava sem graça, me sentindo rejeitado.

– Bobo. Mal sabia que você era tudo o que eu queria. Fui aí para te dizer isso. Para ficar com você.

– Não é possível! Achei que você nem se lembrava mais, que nunca tinha pensado em mim…

Você não tem ideia… sempre tentei falar com você sobre isso, mas você sempre fugia do assunto, desconversava…

Sim, eu fugia, porque sempre achei que você não quisesse nada comigo. E, a cada vez que nos falávamos, eu via que você ainda mexia muito comigo e ficava louco, perdia o rumo…

– Sabe a minha última namorada? Pois é, foi o relacionamento mais longo que eu já tive. Quando terminamos, eu sofri. Mas nada comparado ao que sofri por não ter te tido aquele dia. Nunca nem sequer ficamos e eu nunca te esqueci. Você me marcou mais que qualquer outra pessoa…

– Você também. Achei que soubesse disso.

– Não, não sabia. Como fui rejeitado, achei que você queria só amizade.

– Ai, que mania de rejeição. Pare com isso! Te expliquei tudo naquele dia. Você não quis entender, achou que era desculpa. Tentei conversar com você várias vezes depois… Mas esta sua ideia fixa (ou trauma – sei lá!) não te deixou ver…

Nossa, não acredito! Sempre quis tanto ouvir isso de você! É quase surreal saber que você queria também… e delicioso…

Pois é. Eu quis, quis muito. Tentei. Uma pena tantos desencontros…

É tudo o que eu sempre quis. Ainda quero… eu, eu… a gente podia… ah, nem sei o que dizer ou falar…

– Não precisa dizer nada agora. Só te peço uma coisa: não suma. Te conheço, você está assustado, confuso e vai querer sumir. Me evitar de novo. Por favor, não faça isso.

– Não, não vou. Prometo.

– Oi, sumi, né? Você estava certa, eu me assustei, muitas dúvidas, medos. Mas estou aqui agora. De volta.

– Você ainda me quer? Prometo que não faço mais isso…


Perversidades da vida cotidiana…

A família dela é bem complicada. Sempre foi. Tudo o que poderia acontecer de errado, era direcionado para eles. Impressionante. Um verdadeiro casamento com Murphy.

Apesar dos problemas e da cabecinha meio bagunçada, ela sempre manteve o alto astral. Sair, dançar, beber e convesar com os amigos era o momento mais aguardado da semana. Só que foi virando tábua de salvação. Se agarrou tão forte a ela, que virou vício. Principalmente a bebida. Ela, por ser ainda muito novinha, se perdeu… bem na época em que tentava mostrar ao mundo quem era. Julgamentos. Pressões. Críticas. Ninguém entendia que ela estava carente, queria atenção. E, quanto mais a condenavam, mais ela se afastava. Estava formado o círculo vicioso.

Percebendo a situação de longe, resolvi me aproximar, tentar ajudar. Ela tem potencial, é uma pessoa boa. Só precisa se encontrar. Precisa de alguém que acredite nela, a apóie. E tenha paciência com esta fase.

Nossa aproximação foi uma delícia. As diferenças nos uniram. Eu me divertia com suas confusões e trapalhadas. Refleti muito ao ouvir suas dúvidas e medos. E, ao tentar dar algum conselho, acho que eu aprendia mais do que ela. Aos poucos, a amizade e o carinho foram crescendo. Acho que eu a adotei. Bom, quase (ainda não tenho idade pra isso…). 

Sim, é uma história bem bonitinha. E acho até que, no final das contas, vai acabar bem.

Mas não hoje.

Ontem, ela foi dormir lá em casa. Chegou muito bêbada. Com vontade de comer algo doce. Eu não estava em casa e lá foi ela ‘fuçar’ na despensa e na geladeira. Acontece que eu não sou muito fã de doces, é um item raro lá em casa.

Pois bem. Ela achou um pote na geladeira, abriu, encheu bem a colher e mandou pra dentro. Coitada, pensou que era chantili. Quando sentiu o gosto, ficou confusa, sem entender. O que seria aquilo?

Não, não era doce. É um creme de passar no corpo, em forma de mousse. Conhecem? Deixando na geladeira, ele fica com uma consistência mais cremosa e a sensação geladinha, hum… é uma delícia… Mas não pra comer, né? Ok, tem coisas de comer que podem ser usadas no corpo… e vice-versa. Mas este não era o caso. 

Chego em casa, vejo ela num canto passando mal e no outro meu pote de creme jogado. Só me restou rir diante de mais uma perversidade da vida cotidiana…


“Roll the dice”

If you’re going to try, go all the way. Otherwise don’t even start. This could mean losing girlfriends, wives, relatives, jobs. And maybe your mind.

It could mean not eating for three or four days. It could mean freezing on a park bench. It could mean jail. It could mean derision.

It could mean mockery, isolation. Isolation is the gift. All the others are a test of your endurance. Of  how much you really want to do it.

And you‘ll do it, despite rejection in the worst odds. And it will be better than anything else you can imagine. If you‘re going to try, go all the way. There is no other feeling like that. You will be alone with the gods. And the nights will flame with fire. You will ride life straight to perfect laughter. It’s the only good fight there is.

Charles Bukowski – “Roll the dice” – What Matters Most Is How Well You Walk Through the Fire

 

*** Este texto sempre mexe muito comigo. É forte, verdadeiro. Pressupõe coragem, desprendimento. Espero que gostem! Tentei traduzir… não reparem nos erros, ok?!

 

Se você vai tentar, vá até o final. Caso contrário, nem comece. Isto pode significar  perder namoradas , esposas, parentes, empregos. E, talvez, até sua cabeça.

Isso pode significar não comer por três ou quatro dias. Pode significar congelar de frio sobre um banco do parque. Pode significar prisão. Pode significar escárnio, desprezo, desdém.

Isso pode significar zombaria, isolamento. Isolamento é um grande presente, uma bênção. Todos os outros são um teste à sua resistência. Do quanto você realmente deseja fazer isso.

E você vai fazer isso, apesar da rejeição na pior das probabilidades. E será melhor do que qualquer outra coisa que você possa imaginar. Se você vai tentar, vá até o final. Não há outro sentimento como esse. Você ficará sozinho com os deuses. E as noites serão chama com o fogo. Você guiará sua vida direto para o riso perfeito. É a única briga boa que existe.

 


Te espero sonhando

Meus olhos

agora sem brilho

logo irão sorrir ao te ver

 

Minha boca

só pensa na sua

sente falta do seu gosto

 

Minha pele precisa do seu toque

meu toque procura você

 

Àquela sua blusa

Me agarro

com ela, envolvo meu corpo

pro seu cheiro ficar em mim

 

Agora, um silêncio

corta, machuca

e só o som da sua voz

pode quebrá-lo 

 

Deliro

quase posso ouvir você

perto

falando pro meu peito

que se inflama ao som da sua voz

 

Sinto um arrepio invadir meu corpo

ao sonhar com o seu aqui colado

me querendo, provocando

atiçando meus sentidos

  

 


Fogo de saudade

Quando recebi esta música hoje, ela me contagiou. Independentemente de gostar de samba ou não, a letra diz muita coisa.

 

“Dentro do meu ser  / Arde uma paixão / Fogo de saudade / Invade o coração

Foi sem perceber / Que o amor chegou / Sem nem mais porque / A luz se apagou

E sendo assim / A minha voz não vou calar / Desejo sim / Que um novo sol venha brilhar

Quem ama prá valer / Do amor se fortalece … ”

Compositores: Sombrinha e Adilson Victor

 

Meninas, lembrei de vocês:

Mariana, por falar de saudade… que invade…

Sweet, “…que um novo sol venha brilhar!”

Tâmara “… e sendo assim, a minha voz não vou calar…” – Não se cale nunca!


Descontrole

Amo e odeio quando isso acontece. Quando uma pessoa ou alguma coisa conseguem manipular minha atenção. Não vejo mais nada nem ninguém. Fico completamente envolvida e absorta.

Amo quando tudo caminha bem. Lógico, assim fica fácil. E, dessa forma, consigo justificar para mim mesma o fato de querer e pensar só naquilo. Porque, lá no fundo, sei que é loucura e procuro argumentos para me convencer.

Odeio quando algo não sai conforme o planejado. Meu mundinho quase desaba. Perco o chão. Fico desnorteada, sem saber que caminho seguir.

Eu sei que não deveria levar tudo tão a ferro e fogo. O que for bom – ótimo! – vou aproveitar. Mas não preciso e não devo dar a qualquer fato, acontecimento ou pessoa uma importância maior do que realmente tem. Assim, se não for perfeito, não me abalará tanto. É… saber, eu sei. Mas conseguir agir de acordo está complicado. Tudo o que vivo tem que ser com muita intensidade. Um sentimento não vem, chega e se instala em mim. Ele me invade, me inunda, toma conta de cada parte do meu corpo. Leva-me a crer que se eu não viver tudo junto, aqui e agora vou enlouquecer, perder a grande chance… seja lá qual for. Sendo muito sincera, não sei o que eu acho que pode acontecer. Só que sinto assim. Uma urgência. Ansiedade. Tiro forças não sei de onde, movo montanhas.

É… já sei. Também pensei nisso. Devia concentrar esta dedicação toda em algo mais produtivo, né? Sim, você tem razão. E penso nisso sempre. O problema é que ainda não consigo controlar. Ainda! Mas vou conseguir. E, quando isso acontecer… ah, não me segura porque eu serei capaz de mudar o mundo!