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a moça que escreve sem roupa

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‎”Tentar dar o troco achando que não vai se machucar em dobro mais tarde é burrice.”*

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Não tem era uma vez. Apesar de viver de passado. Joga migalhas circenses para delas se alimentar. Sempre preterida, esnoba um falso ego mascarado de virtude. Camaleia-se por tecos de atenção, vende mais do que alma. Mira a vítima e suga seus ídolos, gostos, quereres. Transforma-se. Despersonaliza-se. A cada novo alvo, outra. Na falta de graça, doa o corpo. Exige do outro o que não oferece nem a si mesma. Grita garbo, elegância e concordância para esconder a falta de caráter. Expatriada, respira lembranças inventadas. Amaldiçoa os que levam a bênção de nunca terem sido. Cuspiu seu veneno em minha direção. Troco? Não precisei fazer nada. Secou sozinha, retorcida pelo ciúme e pela amargura.

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*atribuem essa frase à Buk. não achei a original para confirmar

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Jardim inchado de silêncio *

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foto: arquivo pessoal

“… tempo, essa volúpia de fazer sumir sem trégua…”
Carlos Nejar

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Minha mania de contar esquinas se perdeu de você. Quantas, só hoje, dobraram seu caminho?

Daqui, consigo ainda imaginá-la. Com um sapatinho boneca sem salto, cabelo solto e meio molhado, vestidinho leve, sacola de compras. A vontade que me dá, hoje, de ter aproveitado, no ontem, esses passeios contigo me consome. Nunca fui. Controlava seu trajeto, engaiolava seu tempo. Sentia-me seguro na insegurança que te impingia.

Fiz nossa relação encruzilhar-se com a vida. Sem te dar opção.

Foi numa esquina que de mim você se desvencilhou.

Aquele dia não seria de mercado. Embora eu precisasse de tanta coisa! A lista que eu havia feito ficou sobre a cômoda, ao lado da chave. A sacola nem saiu do armário. Eu não reparei. Tão cega era minha certeza desleixada.

Você andou à revelia, suponho. Talvez, tenha comprado um livro e com ele sentado-se em um café não muito longe de casa. Sua atenção insistia em desviar-se da ficção, sem controle. Era vida que você buscava. Desde o começo. Meu medo sempre foi que você a encontrasse. Quase posso sentir o momento do trincar: você percebeu a redoma que minha obsessão medrosa transvestida de amor criou para te sufocar e decidiu-se. Nem pedaço sobrou.

Um longo suspiro, como o que deve ter selado sua liberdade, sela hoje minha prisão. Esforço-me para sentir um traço ainda que longínquo do seu perfume pela casa, nas roupas que ainda são suas, mas já não te vestem. Encontro-o, embaçado, sujo e confuso lá nos fundos. No seu jardim. A única parte da casa que era sua e só sua. Você cuidava dele como cuidava de mim e eu nunca aceitei te dividir; convidava-me a fazer parte dele e eu nunca quis. Estava ocupado demais em nunca te perder.

Hoje, seu jardim é minha casa. Cuido dele como, antes, não cuidei de você. As flores e até frutos, quem diria!, retribuem meu carinho ao te trazerem de volta para mim em forma de cor, cheiro, sabor. Até a textura aveludada da sua pele consigo sentir em cada pétala que toco. Tuas palavras antes tão abundantes e nunca ouvidas escureceram-se, enterraram-se aqui e por mim são veladas.

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* Texto originalmente publicado na Confraria de verão.

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Por redução ao absurdo*: sátiro ou pobre palhaço erudito devoluto e estranho

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tem tanto meu em tudo
que ele não admite
e eu
nem preciso fingir
nada parece o que é
mas tem a música, o livro
menos troféus
é pedir muito?
e esses pronomes possessivos
in-trínsicos-transferíveis
a minha na sua
a sua em mim
tão impessoais
indefinidos
singulares em número e verbos
plurais em vontades e números
e versos
pedintes
não vejo, não peço
peco
e observo
de longe
cada vez, mais longe

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* prova da falsidade, ao obter uma consequência lógica absurda. é um procedimento matemático, mas se assemelha à ironia, método predileto do satirista.

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Dadinhos

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Achei que era seu braço que se enlaçava no meu. Eu estava embaixo da mesa, brincando de não me esconder. De fingir que fujo. Para você não deixar. Me pede pra ficar. Me pede e eu vou dizer que não e, talvez, chore sentada no chão com as pernas encolhidas abraçada aos meus joelhos e, talvez, tente te afastar. Não deixe. Me segure firme para eu te [re]conhecer, saber quem você é e me permitir ser quem sou.

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além das nuvens

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Quase deixei mais da metade da pilha de louça suja por lavar para vir escrever. Bendito vício. Não por medo de esquecer, tenho uma memória, por vezes, maldita. Vim porque precisava dizer. Tenho urgências ansiosas. Ela não quer sempre ser a chata. Nem a forte. Nem a que não espera algo bom de alguém. Ela ouviu “você é minha consciência” e ficou feliz. Pois não fique, eu disse, não fique. De acordo com o “Menino de Ouro”, “deitamos mão ao que diz o povo e falamos sem pensar”. Ela questiona até os ditos populares. Eu digo a ela, é fuga. E ela me escuta? Não! E se propõe àquele papel, quando não pedem. Não pedem, mas ela ouve. Alertei, é loucura. Ninguém sabe o que ela sente. Nem mesmo eu. Vejo-a fazendo laços alheios e se perdendo em nós. Não posso gritar, nem te avisar, ela não deixa.

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pior é que já

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Era besteira, confesso. Era besteira o que eu estava pensando assim que parei de correr. A música me lembrou a arte de cozinhar e me deixei levar por alguns segundos. Quase ninguém sorri como você, você corre sorrindo. Não, não se assuste. Me desculpe chegar assim. Anda um pouco comigo? Eu sei, mas você me parece rápida e é nova. E ainda tem sol. Vem e eu me apresento propriamente. Não sei bem porque fui. Mal ele não iria me fazer. Era uma versão feminina da senhorinha do terço. Só que mais forte. Magrinho e forte. Com fôlego de ex militar. As plaquinhas penduradas no pescoço não negavam. Fora a dificuldade para levantar as pernas, andava quase arrastando-as, ainda tinha disposição. Meu filho vai gostar de você, tenho certeza. Não ria, não, não vá embora, é sério.  Não venho aqui caçar pelo meu filho, foi coincidência. Acredita em coincidências? Nessa hora, tantas lembranças se misturaram, que perdi o começo do caso que ele contava tão compenetrado. Só por isso ele não está aqui hoje. Essa fase da farra é de doer e não combina com ele. Certeza que chegará mais sozinho dessa viagem do que antes. Ele precisa de alguém que sorria como você e que dê atenção a velhos loucos na pista de cooper. Não gostava da minha ex nora, se é que posso chamar assim a ex namorada dele, uma interesseira metida arrogante fingida de marca maior. Conheço o tipo de longe. Claro que não durou muito. Ele nem sofreria, não por ela, mas ele ama amar. Até quem não deveria. Puxou isso de mim. Sim, eu me culpo por essa mania que ele tem de sofrer e perder seu tempo com quem não merece. Você não é casada, é?  Reparei que não usa aliança. Se bem que poderia vir correr sem ela, isso me veio à mente; fiquei na dúvida, pois está de brincos, mas imagino que eles não devam incomodar tanto quanto anéis. Eu não me afasto de minhas correntes, por mais barulhentas que sejam quando ando. É ou não? Casada, eu digo. O momento de espanto dele, que quase sempre me persegue, alguns o sabem. Estará aqui no final de semana que vem? Virei com ele, só para podermos te ver, se não se importar. Você é rara, menina, uma verdadeira fidalga, alguém já te disse isso?

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Anagrama

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Perto do meu colégio, havia uma “Clínica da Alergia”. Eu, criança afoita, li alegria e fiquei toda animadinha. Minha mãe – que deve ter tido muita vontade de rir da minha cara – me explicou significados e diferenças.

Fui para casa inconformada e decidida a não deixar uma letrinha fora do lugar me vencer. 

Há pouco tempo, a clínica fechou. No lugar dela, abriram um boteco bonito, convidativo. Eu, agora uma mulher feita, não fiquei triste. Este bar bem que pode ser a nova “Clínica da Alegria”. De um jeito ou de outro, ainda acredito.

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Esse ‘conto’ tem uma versão alternativa, bem diferente e mais perversa. 

…quem sabe um dia…

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da audácia da chuva. sem pressa do sol.

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Se a dor do não vivido é mais amarga quando ainda se tem a chance, mas percebe-se que o momento passou e não há resgate que dê jeito, eu não sei. Sei do buraco que senti.

Teremos 90 anos e ainda a mesma cumplicidade. Foi o tempo do beijo que passou. O desejo se transformou, de tanto ficar guardado.

Difícil ter uma conversa dessas, ainda mais na fila do check in internacional. Difícil saber que nos encontraremos de novo só daqui a quinze dias. Sufocante lidar com o medo de que ele se afaste pela minha escolha do não. Água salgada nenhuma conseguiu reduzir a ansiedade: “como será quando ele voltar?” “será que o orgulho ferido fará com que nos percamos, de novo, um do outro?”.

Até quando a consciência pesada dessa fase cafinha vai me perseguir?

Notícias já vieram do além mar. Com elas, a esperança de que chegaremos, seja como for, até o fim. Com a provocação sadia que tanto nos alegra, nos irrita e nos faz falta.

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nesse turbilhão, a descoberta
de amiga que me vende com amor
de amigo não “contável”
e da alergia à lágrima ácida
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Fui vendida por alguns chocolates suíços e duas taças de um bom vinho. Já nem me interessa saber se a da piscina vai colar lá ou não. De coincidências macabras aquele conjunto está cheio. A distância inclui show virado e convite culpado. Pior do que pedir ajuda é ser mal interpretada.

Tenho mania de manias e uma delas é me explicar demais. Pela irritação dos mal entendidos. Só que existe um limite. Certos desentendimentos não merecem nem a saliva gasta.

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Medo de amar – Adriana Calcanhoto

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conjugação defectiva no tempo da memória

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Assim que pus os pés no aeroporto, sabia que deveria ir comprar um vinho, antes mesmo de deixar as malas em casa. A noite não seria fácil. Quantas vezes quis que meu sexto sentido estivesse enganado. Não comprei o vinho e me senti impelida a não seguir o caminho em néon. Arisca? Irritante essa minha mania teimosa de não fugir do sentir e de querer ir até o fim. De subir no salto, como se não sentisse medo. De sentir falta da falta. De sentir falta do frio na barriga. Enquanto uma decepção me tornava menos crente, uma nova chance me assustava como não deveria. E eu só querendo ser livre com ele, justamente o alguém que tem medo de ficar sem algemas.

………………………….por medo da ausência que – todos nós – seremos e teremos,
………………………………..buscamos, na distância, a falta que nos move?

Descobrir a maldade babaca de uma peça solta da engrenagem que eu defendia, mesmo sob altas doses de irritação infligida, endurece e não há amor que surja do passado que amenize. Nem nada que enrouqueça a vontade de me arriscar no novo inusitado. Sim, eu pularia lá do alto com ele, sem proteção, sabendo que não significaria morte e sim vida. Adiantaria eu segurar a mão dele, desse alguém que eu quero e quero livre de amarras, e pedir: “pula comigo”? Entendo o temor, a cautela, a precaução, a dúvida entre o risco e o ganho, o pensar excessivo. Quem nunca?

Do outro lado, um outro alguém me estende a mão e me diz: “pula”. E eu não quero. Penso, re-penso, hesito.

O querer é estranho, complicado, encantador. Quero o que já tenho, o que conheço e que ainda me surpreende, o que admiro. Não quero o seguro sem emoção que vende a promessa de não deixar cicatrizes. Quero as mãos dadas que me dão uma alegria leve e leal, sem cobranças. O sorriso gostoso do desejo, sem jogos. Com alguém que não me dá certezas e que ainda assim me enche delas.

“Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho” *

Não me encaixo em sonhos. Mal me lembro deles. Tenho ojeriza a idealizações e razões sem sentido. Prefiro os pecados que podemos criar juntos, ainda que não tenham nome; fantasias que, se loucas, são nossas e só nossas; segredos sem sombras, não por devermos algo a alguém, mas por ninguém ter nada a ver com o que vivemos e somos, quando juntos.

“o presente foge, o passado volta e o futuro passa” **

Um pacto implícito, entre ele e suas pessoas, foi rompido. Ausência e falta, hoje, misturam-se num mundo sem paradas que ele criou, onde tempos verbais brigam e se perdem. Dele. No instante em que o imperfeito deixa de se presente, o gosto doce do pronome possessivo se torna amargo. Ele corre, alcança e não suspira. Satisfaz-se com excesso de controle e, ainda assim, não me engana: sim, eu acredito que ele saiba amar.

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* Blues da Piedade, Cazuza e Frejat
** Nem Um Dia se Passa sem Notícias Suas – Daniela Pereira

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Guaranteed: o início depois do fim

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Dele me lembro do abraço quente. Do beijo que não deixei que me roubasse. Das flores criminosas. Da vulnerabilidade dividida. Da lealdade. Das mãos dadas. Da paixão sufocada. Da sensação de beber o vinho no gargalo, no meio da rua.

Dele me lembro dos desencontros. Das vontades intensas fora de hora. Dos sorrisos sem graça em companhias alheias ao nosso mundo.

Dele me lembrarei da surpresa de agora. Da descoberta do desejo ainda pulsante.

Da sintonia ainda viva: “Foi exatamente isso que eu pensei. Se não aproveitarmos essa sensação agora, não teremos outra chance, pelo menos, não nessa vida”

Dele sei que as lembranças com ele estão só começando a serem construídas.

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Such is the way of the world…..
You can never know…..

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[sem síndrome da tagarelice arrependida]

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“Posso começar com uma confissão? Tenho medo de você. Não é bem medo, porque sinto em algum lugar (no meu sexto sentido, talvez) que você é uma pessoa doce, que dificilmente machucaria alguém. Mas medo, porque você tem aquela coisa que me faz falar sem ter medo. Tenho medo de você porque você me faz perder o medo, e o medo é a minha melhor defesa (é claro que isso não quer dizer que seja algo ruim, às vezes gosto de me sentir assim, livre das amarras nas quais eu mesmo me atei no ofício complicado de conhecer pessoas).

(…)

Admito que mal conheço você, mas de certa forma sei que conheço. Gosto de você. Gosto daquilo que não conheço. Naquilo que me reconheço. Não tente entender (ninguém entende, só eu).* “

:::

Esse trecho foi escrito, para mim, por uma pessoa que estou deixando entrar e me conhecer um pouco mais.

Li e senti um arrepio trovejar minha serra dos órgãos, daqueles quando alguém nos descreve sem saber. Ele estava falando dele em relação a mim. Mas parece que estava falando de mim. Em relação a você. Sim, porque é assim que eu me sinto com você.

É estranho e bom. Como virar um pronome possessivo, por gosto de querer o ser.

Certeza não se explica.

“Quem disse que o estranho não pode ser digno de admiração?”. Eu admiro esse meu sentimento de não temer que você veja minha sombra no escuro. Sem enaltecer, sem altar, sem seres intocáveis.

É um sentimento bizarro e bizarro não é estranho só. Bizarro vem do italiano bizarro que denota aquilo que é: elegante, puro de caráter, gentil, generoso, digno de admiração, original.

E nosso. Quer dizer, não posso dizer que é nosso. Posso dizer que é meu. Sim, eu tenho um sentimento bizarro que é meu sobre o nosso que eu construí e re-construo de noite, “quando o sol dá a alma pra noite que vem”**…

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** Nós – Barão Vermelho

*trecho de uma carta dele, enviada só para mim

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tear

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Por mais que eu reclamasse, achava bonitinha sua loucura para me re-conquistar. Até aquele dia. Eu o levei ao nosso bar de sempre. Não nosso. Eu que te apresentei. Não que fosse meu. Isso não importa. Estávamos lá, com mais um casal. É lógico que lembraram de você, perguntaram, o assunto veio à tona. Ele, meio ciumento, não gostou, mas matamos o assunto ali. Até você aparecer. Do nada. Justamente naquela noite. Há anos você não ia lá. Os garçons sabiam, tentaram evitar, mas você foi até nossa mesa. Puxou uma cadeira, se sentou com a gente. Provocou-o. Quis provar que me sabia. Ele ficou irritado. Saiu sem dizer uma palavra. Eu te xingava e te batia, torcendo para que você ficasse longe e não me abraçasse. Ele voltou. Puxou o casaco pro lado e mostrou uma arma. Mandou você se afastar e nos ameaçou. Você, não menos louco, fez o mesmo. Por essa ele não esperava. Eu gelei. Vocês pareciam animais. Preocupados com a “vitória” e com a posse da razão sem sentido. Personagens de um filme triste. Solitários. Eu não queria fazer parte. Não fiz. Pavões e galos de briga nunca me atraíram.

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Dog Days Are Over [ou pequenas mudanças de luz]

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para quem não gosta de ler em inglês, abaixo, no vídeo, o diálogo traduzido.

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*** Grace – If you don’t want to kill me then why did you come?

Her father – Our last conversation the one in which you told me what it was you didn’t like about me never really concluded as you ran away…

… I should be allowed to tell you what l don’t like about you. That l believe would be a rule of polite conversation, you know…

*** Grace  – You’re sure you’re not here to force me to go back and become like you?

Her father – If  I thought there was a chance of forcing you, but of course that will never happen.

*** Grace – So what is it? What is it, the thing… the thing that you don’t like about me?

Her father – lt was a word you used that provoked me… You called me arrogant

*** Grace – To plunder as it were a God given right l’d call that arrogant, daddy

Her father – But that is exactly what l don’t like about you: lt is you that is arrogant!

*** Grace – That’s what you came here say? l’m not the one passing judgment, Daddy, you are

Her father – No, you do not pass judgment because you sympathize with them

… A deprived childhood and a homicide really isn’t necessarily a homicide, right? The only thing you can blame is circumstances …  Rapists and murderers may be the victims according to you, but l call them dogs and if they’re lapping up their own vomit the only way to stop them is with the lash

*** Grace – But dogs only obey their own nature. So why shouldn’t we forgive them?

Her father – Dogs can be taught many useful things but not if we forgive them every time they obey their own nature

*** Grace – So, l’m arrogant … l’m arrogant because l forgive people?

Her father – Can’t you see how condescending you are when you say that?

You have this preconceived notion that nobody, listen, that nobody can’t possibly attain the same high ethical standards as you so you exonerate them

l can not think of anything more arrogant than that

You, my child… my dear child… you forgive others with excuses that you would never in the world permit for yourself

*** Grace – Why shouldn’t l be merciful? Why?

Her father – No, no, no You should, you should be merciful … when there is time to be merciful

But you must maintain your own standard. You owe them that. You owe them that. 

The penalty you deserve for your transgressions they deserve for their transgressions

*** Grace – they are human beings

Her father – Does every human being need to be accountable for their actions?

*** Grace – Of course they do

Her father – But you don’t even give them that chance.

And that is extremely arrogant

l love you, l love you  l love you to death. But you are the most arrogant person l have ever met. And you call me arrogant! l have no more to say

*** Grace – You are arrogant, l’m arrogant You’ve said it, now you can leave

Her father – And without my daughter, l suppose?

*** Grace – Yes

Her father – Well, you decide, you decide…

… they say you are having some trouble here

*** Grace – No. No more trouble than back home.

Her father –  l’ll give you a little time to think about this …   Perhaps you will change your mind

*** Grace – l won’t

Her father – Listen, my love… power is not so bad… l am sure that you can find a way to make use of it in your own fashion… Take a walk and think about it!

*** Grace – The people who live here are doing their best under very hard circumstances.

Her father – lf you say so, Grace …  But is their best really good enough?

Do they love you?

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Dogville, Lars Von Trier, cap. 9

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Não sabe – ou não quer – brincar, não desce pro play

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Mesmo tendo excluído a conta @meninamisterios do twitter, eu me envolvi no #LingerieDay. Não por pretender o posto de mediadora da ONU, até porque não acho que discussões tenham, necessariamente, que gerar conflitos. Mas pelo prazer de argumentar, de incitar, de saber. E de tentar falar e opinar menos, o que, como veem, não funcionou.

As reflexões passavam pelo feminismo, pelo ostracismo, pelo machismo, pelo estrelismo, pelo achismo, pelo cotovelismo. Ismos a esmo, ao meu ver. Não por falta de elementos discutíveis, mas por criarem muito caso com uma brincadeira. Tudo tem que ter tanto significado? Tudo merece um porque ou um senão? [digo isso sendo uma questionadora, quase chata] Banalizam os “porquês” assim como o “eu te amo” e o “vai à merda”. É interessante levantar questões, principalmente, dentre as que existem no tema e no que ele suscita; não no porquê alguém participa ou não do #LingerieDay. É uma escolha, como qualquer outra. Não desmerecendo, nem enaltecendo. Cada um ama quem quiser, de graça ou por dinheiro, e se despe ou não como quiser. Isso não significa que eu tenha que concordar ou agir da mesma forma. Muito menos julgar.

A liberdade de um indivíduo não vai até o ponto em que começa a afetar a do outro? Se não quiser ver, não clique. Não é uma obrigação infligida.

Minha cabeça hoje não parou quieta e ia de digressões literárias à brincadeiras inocentes ou perversas. Pernas, calcinha, sutiã, bunda ou peitos expostos no twitter não afirmam que a pessoa não pense. Bem como um livro no avatar não garante que ela pense. O mundo está ficando chatinho e melindroso demais. Me cansa essa mania de rotular.

Explicar uma piada é como ter que defender o ludicismo intrínseco de uma brincadeira. Perde a graça.

E, se podemos aproveitar e/ou conversar sobre isso e sobre o que causa, nos divertindo e/ou aprendendo algo, por quê não?

Se não me diverti com as fotos de lingeries ou de cuecas, me diverti com as discussões, desde as defesas até as críticas, ferrenhas, brandas, fundamentadas ou não.

Ninguém engana todo mundo por muito tempo. Tem corpo que se esforça para mostrar sua moral ilibada e ser visto de forma diferente. Tem cabeça que se esforça para que olhem para baixo e a desejem pelo carnal. Só existe um ou outro? Acho que vai além. Cada pessoa é bem mais que um avatar. Parece que se esquecem disso.

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Para quem não sabe o que é o #LingerieDay

Polêmica de mundo chatinho: Nirvana e FB

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Epifania

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Se eu revelasse o assunto do email que gerou tudo isso, ninguém acreditaria.

A brincadeira foi ganhando forma aqui dentro. Não quis mais ficar só na cabeça. Tomou o corpo e quis sair. Com bem mais que uma mera pretensão de acontecer.

Seria uma experiência até simples. Mas só de imaginar fiquei desconcertada. Tem épocas – para não ser deselegante e dizer que é quase sempre – em que os desejos ficam à flor da pele. O que estou vivendo – mudanças, vontade incessante e incontrolável de experimentar e provocar, entrega, fantasias se tornando reais – contribuiu para a empolgação. E o destino certo, claro. Melhor do que a simplicidade da ideia é quase poder sentir o furor do alguém que vai receber.

A concentração no trabalho já estava perdida mesmo, então, fui embora para colocar a doideira em prática, antes que eu pensasse melhor e desistisse. Ou pior, antes que tivesse mais ideias como essa.

Enquanto me deliciava com o devaneio, em meio a cada vez mais desatinos, lembrei-me de algo que li ou ouvi, não sei ao certo onde:

“Just my own naked self and the stars breathing down, it’s beautiful.”

Deu tempo de desviar do caminho de casa. Fui para onde eu pudesse fazer tudo, exatamente como sonhei acordada. Queria fazer sozinha. Sem ajuda, sem plateia. O gostinho surpresa seria melhor.

“Existiam duas mulheres dentro de Lavínia. Uma usava um dedo de pintura e muita lascívia. Trepava de um jeito atrevido, como se estivesse punindo a outra, a Lavínia mansa, assustada com o mundo.” *

Não me contentei em capturar só o desfecho. Fui, já no carro, narrando tudo o que acontecia comigo. A descrição de certos detalhes é excitante.

“O detalhe é a alma de toda a fantasia. Qualquer detalhe, por mais inusitado ou pervertido que seja. Daí os fetiches. A particularidade do desejo. E um detalhe pode tornar-se muitas vezes mais excitante que a própria fantasia.” *

O calor só aumentava. Descrevi o lugar, a noite, o céu, meu corpo, as sensações. Meus pensamentos. As mãos. A grama molhada. A cadência da vontade. Crescente. E mais. E mais.

“Quem me contava isso era a Lavínia doida, não a puritana. Uma falava da outra na terceira pessoa. E eu adoeci daquela mulher. Contraí o vírus da sua insensatez.” *

Eu queria mais.

“Era intenso demais para ser só um jogo”. *

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– Posso gritar?

– Pode. Grava e (me) manda.

– Ah, sem graça. Se for pra mandar, tem coisa melhor…

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* trechos do livro
“Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”,
Marçal Aquino

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uma parte

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Você precisou viajar. Mas não conseguia chegar. Estava aflito. Começou uma festa, acho que na sala de embarque. Claro, tudo estava diferente. Você pedia ajuda, você conhecia as pessoas. As pessoas te viam, riam pra você, te ouviam, interagiam com você, mas não escutavam o que você dizia. Elas ouviam só o que queriam. Como se ouvissem só aquilo que viam. Elas te viam bem. E você não estava e você pedia e nada. E cada vez enchia mais. E você mais aflito. Até uma hora em que você parou de procurar ajuda. Entrou na festa. Pareciam zumbis, mas não eram feios. Era uma espécie de aquário. Eu estava do lado de fora, angustiada. Não conseguia te tirar nem te ajudar de lá.

Tinha uma casa, que não era a sua, de entradinha baixa, pintadinha, só que destruída. Não havia mais ninguém. Um relógio na parede, perto de uma cristaleira, ou uma daquelas estantes antigas. Tudo meio desmoronado. Ainda tinham alguns móveis, do estilo de casa de avós, com uns porta retratos e os porta retratos estavam com fotos sem as pessoas; você disse ser por não se lembrar mais deles, dos diferentes.

Apareceu um alguém sarcástico. Era a única pessoa que falava sobre o que estava acontecendo com você, mas esse não te via mais. Era um homem. Eu não sei quem era. Ele dizia que você sabia o porquê. Ele te ensinou tudo. Hoje, tinha o saco roxo, amassado e mole, quando se sentava.

Você tentou quebrar o vidro. Era outra época, muito antiga, não era agora. Era o passado.

O agora eram aquelas pessoas, na festa, celebrando sua morte.

Eu vi como você morreu.

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Dilema do Prisioneiro

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“Você sabe o que eu penso sobre você!”  (…) … não, não sei. Me diz?

o nosso mundo existe ou eu o criei sozinho?

Eu não preciso virar poema. Diz só pra mim.

Tem um pedaço lanhado, está sagrando ainda; ela mordeu, arrancou e levou. Eu escondo. Comprei um sapato novo, cortei o cabelo, passei batom. Mostro pra você, vem cá… viu como está feio? E ele? Ele foi embora e nem queria ir. Eu o sentia ainda comigo, mas a que vive aqui dentro de mim sabia que ele não estava mais e me contou…  e está doendo tanto… e eu não gosto de pedir… é que está tudo quente, tudo fincando, tudo tão maior e menos claro.

estou com medo que vire pedra. não deixa?

Eu não quero mais brincar de “adivinhar”. Sou péssima nisso e tem a culpa e está escuro.

eu estou aí? faço parte?

mesmo se eu vomitar um coelhinho?

mesmo se o Diabo não encher nossa taça?

mesmo depois que eu te disse que, apesar de muitas pessoas e turmas, poucos eu deixo entrar e que você eu deixei e que você é como se fosse uma parte de mim? eu te assustei?

quem não brinca de usar e maltratar e alfinetar e de cobrar vai pro balaio comum? é onde eu estou?

posso descansar um pouco? promete que o mundo não para?

se eu não gritar, você me ouve?

Eu confio. É que tem dias que tudo se esconde e eu sei que as coisas andam e são vivas… e eu fechei os olhos, tateei, agucei sentidos, esperei, depois busquei e procurei e continuei e me segurei… só que tudo sumiu… daí, eu senti um baque maior… e acho perdi tudo e sei que não me perdi… é que está tão difícil… e, dessa vez, eu não consegui encontrar sozinha… e eu não sinto nada aqui perto, tem tanto barulho, eu estou cansada, assustada e minhas mãos tremem e tem um vazio… e… me diz que não estou louca por continuar andando e por não sair e por não abandonar tudo e por não me afastar e por acreditar que o lugar é diferente mas que tudo [ainda] existe… me ajuda … me diz? … chega mais perto?

eu sei das portas e cadeados e caduques e da ausência e do medo e da descrença e das muitas pessoas e das distrações e da reclusão e dos novos brinquedos … e eu quero… me deixa entrar?

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Quero Quero – Cláudio Nucci

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Olha pra mim*

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Azul e clara. Assim eu via a noite que, apesar da presença dela, estava escura e cinzenta. Ela me via entre folhas. E sabia. Sabia que eu evitava o olho no olho. Para que você não me visse. Para não permitir você entrar e eu me envolver.
 
Aconteceu mais de uma vez. Uma evitando o beijo. A outra, o sentir. Então, sou eu. Sou eu que me defendo da paixão. Eu que controlo a ânsia de te provocar. De dizer minhas vontades. De realizá-las com você. Eu que me faço forte. E, sem perceber, desencano. Porque eu não me rendi. E sem entrega é mais fácil me desvencilhar.
 
Nunca mostrei o anseio inconstante e incontrolável. Que poderia surgir no meio da tarde. Que me faria te ligar e dizer safadezas, enquanto me tocava e ouvia a sua voz. Que te enlouqueceria quando menos esperasse. Que te faria ouvir meu prazer, mesmo que eu não dissesse uma palavra. Que alteraria a respiração só de imaginar. E nos faria querer mais e mais. E mais.
 
Guardei o talante do gosto. Do gozo. Guardei. Guardei fantasias. Guardei confissões. Guardei loucuras como te imaginar… como nos imaginar… Eu não falei. Nem pistas eu dei. A ponto de você pensar que estivesse desinteressada. E estava. Do normal que você sempre teve, eu estava. Sufoquei um interesse para que os outros pudessem sobreviver.
 
Não quis como era previsto querer. Era normal, esperado, sem graça. Fugi tanto que não senti. Se acha que me teve, não sabe o que é ter. Ou sentir. Talvez, você também não se entregue. E nem tenha percebido.
 
Há tanto envolvimento de outra forma que seria até bonito. Eu confio em você. Fora da cama. Fora do toque. Fora dos corpos juntos. Na verdade, eles nunca estiveram juntos. De verdade, não estiveram.
 
Nesse tempo, só um conseguiu chegar até mim. Derrubou a barreira e houve entrega. Mas faltava o resto. Talvez, por isso, eu tenha o deixado chegar tão perto.
 
Como seria se, de novo, eu deixasse que todos os interesses se encontrassem em uma só pessoa?
 
É engraçado te dizer isso assim, olhando nos seus olhos. É que hoje tenho a certeza de que você não consegue me fazer ser sua.
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* segurando meu rosto com as duas mãos,
sugando meus olhos pros dele.
por achar que, assim, eu não poderia fugir.
 
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Além de safado, burro.*

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Romualdo conheceu Clarimunda num daqueles grupos de encontro em que a parte espiritual é apenas um pretexto. Tentou aproximação, sem sucesso. A fama o precedia. Mas sua presunção tranquilizava: seria questão de tempo. Enquanto isso, turma grande, muitas possibilidades e, como a cama já estava feita mesmo, por que não aproveitar?

Continuou sendo o Romualdo de sempre: mulherengo, largado, vadio. Mas começou a sentir falta de se apaixonar. E não tirava Clarimunda da cabeça.

Decidido, abriu seu coração. Contou sobre seus vícios, taras, escapulidas, casos e tudo o mais. Queria recomeçar.

Com o tempo, ela cedeu e confiou.

As coisas foram engrenando, estavam praticamente namorando. Mas, dessa vez, ele queria fazer tudo certinho e diferente. Antes de selar o compromisso, disse a ela que precisava resolver uma coisinha, uma pendência.

Num impulso e no desespero de ter a última antes da última, combinou com outra menina, do mesmo grupo, que a um bom tempo dava mole. “Se você é um caçador e um alce pega sua arma, atira em si mesmo e se amarra no teto do seu carro, você tem que levá-lo pra casa e comê-lo”. Foi o que ele fez.

Assim que ele foi embora, a caça ligou para a quase namorada e relatou em detalhes: “Ele me queria muito. Mal chegou, já foi me virando contra a parede, de costas para ele. Enfiou as mãos por baixo do meu vestido, arrancou minha calcinha e começou a me penetrar com força, enquanto puxava meus cabelos. Ele ainda escorre entre minhas pernas. Precisava te contar, amiga, eu me preocupo com você”.

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* título. supervisão. presentes.

obrigada!

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“I’m about to lose my worried mind” *

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Sem descanso entre stiff, remada aberta e rosca, com um corrigindo minha postura e o outro me contando sobre a briga com a namorada na noite anterior. Até que ele pediu minha opinião. E eu dei, oras. “Sempre achei sua expressão tão doce, sua voz tão suave…. achei que você fosse mais…” Mais muro baixo?, perguntei. Ele ficou parado, um tempo me olhando, perplexo. Até que: “Repete. Quero anotar”.

O sábado foi com pinga e cachaça, brincando com a ideia da pimenta no nome. Turma reunida para consolar um amigo que terminou o noivado. Ele justificava que, ao ouvir de todos que era muito exigente, decidiu investir nessa relação e ser mais maleável. Aceitou, aceitou. Até ser bobo. Não soube achar o meio termo. Estava desconsolado achando que, difícil de se contentar como era, iria acabar sozinho. Alguém que me conhece muito o consola: “Fica assim não. A Menina é, pelo menos, umas três vezes mais exigente que você. E ela se apaixonou. Ela arrumou alguém. Se acontece com ela, vai acontecer com você também. Fique tranquilo!”. E só isso o acalmou.

Ele chega lá em casa com um vinho e o violão. Toca pra mim: “Quando a gente conversa Contando casos, besteiras Tanta coisa em comum Deixando escapar segredos”. Ouço-a inteira sem desviar meus olhos dos dele. Prometi não fugir mais. Ele termina a música e me rouba um beijo. “Beijo: quando um não quer o outro não rouba”. Palavras não eram mais necessárias. Ficamos abraçados até escurecer. No escuro, juntos, até amanhecer.

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*Since I’ve Been Loving You – Led Zeppelin

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teaser

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“Muito estranho isso. Tá me angustiando. 100% das decisões estão nas suas mãos. Sou um peão no tabuleiro. No seu tabuleiro.”

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“Rindo de mim mesmo por ter alguém que eu ame e deseje tanto tão longe… e pensar: ela pensa em mim… eu sei que sim… Ok, eu que quero que seja sim. É sim? Pensa?.

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“Se textos me dessem a oportunidade de me apaixonar intensamente… diria que sim… estou… eu fujo de frustrações e não conseguir me expressar é uma delas (…)

(…). se a outra ponta me dissesse o que sente, deseja ou pensa…

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Eu já vi muitos olhos nervosos diante dos meus, eu acho isso bem interessante
e vou te dizer uma coisa…
se um dia meus olhos encontrarem os teus…

 

………………………

Para você:

não consigo parar de pensar no que você me disse. não só nessa frase que postei.

agora, mais na outra. a de hoje. a do desejo.

na distância das vontades. em falar ou não.

tem muita gente.

………………………

 



Sinal da compaixão*

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Paramos lado a lado no sinal. Não sei porquê, mas ela chamou a minha atenção. Acho que foi seu ar meio tristonho. E o vidro sem película. Quem ainda anda de carro com as janelas tão clarinhas? Dá pra ver tudo lá dentro. Eu vi. Ela não. Nem reparou. Talvez estivesse absorta, concentrada. Ou, talvez, tenha sido culpa do vidro escuro do meu carro. Não sei. Só sei que, de repente, ela começou a chorar. Um choro doído, sincero. E quem sou eu pra achar isso? Eu nem a conheço. Mas ainda achei mais: parecia ser silencioso. Ela não soluçava. A impressão é de que as lágrimas rolavam a revelia, por mais que ela tentasse se manter inerte. E eu olhando. Senti vontade de fazer alguma coisa. Ela estava sozinha e eu, ali. Talvez, eu pudesse ajudar.  Mas eu iria fazer o quê? E quem disse que eu poderia? Que mania é essa? Talvez, só a atrapalharia ou a assustaria. Bem mais provável. Ninguém acredita na preocupação sem segundas ou terceiras intenções mesmo. E eu nem consigo saber. A rua está tão movimentada. Tantas pessoas. Umas tristes. Outras não. Umas mais, outras menos. Mal sei o que está acontecendo do meu lado, imaginem dos outros lados do mundo. Eu nem sei porquê. Agora já era, o sinal abriu.

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* o título foi um presente.

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jeans

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Sim, prefiro viver sem você, quero que vá embora. Eu me faço de forte e, fraca, te evito. Preciso te manter longe. O perto é estonteante. Perto, fico só na teoria. Você me sufoca, não te quero mais. A decisão funcionaria se eu não te visse.

Você diz saber o que eu quero e acredita que, no fundo, não é que você se afaste. Isso só me irrita mais. Porque é. E você não quer saber. Finge não entender. E eu? Eu sei. Mas só quando estou longe de você.

Se eu te escrevesse, daria certo. Selaria a carta e pronto. Só que quando você se aproxima de mim, as vontades se caldeiam. A pele fala mais alto que a razão. E eu esqueço tudo.

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Não resisto ao seu olhar perdido em meus lábios, enquanto tento te dizer não.

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E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim

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Vulgo Pavão

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– Qual música você acha que combina comigo?

– Hein?

– Todos tinham uma que você escolhia. Menos eu. Por quê?

– Ora, você era meu chefe… e você nunca gostou de brincadeiras.

– Mas você podia. Não sabia? Não se preocupe, vamos ter muito tempo. Eu me separei.

– Oh, que pena. Sinto muito. E como você está?

– Estou muito bem! Sente por quê? Agora a gente pode ficar junto!

– Hã?!

– Lembra o dia em que você pediu demissão?

– Unrun.

– Você ter saído da sala sorrindo e eu aos prantos me persegue até hoje. Perdi a moral, mas foi ali que eu percebi que te amava.

– Por eu ter te feito chorar?

– Não, por perceber que você me entendia. Você me tocou. Não percebeu? E agora você pode me amar também!

– Ah! Posso é? Er…. obrigada?

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